Não há regras para boas fotos, apenas há boas fotos
(Ansel Adams)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

UMA FOTO, UMA LEITURA



                                            
                                                         ANCORADOS NA HISTÓRIA

Acabei de almoçar no Restaurante do Museu do Vinho do Porto e preparo-me para digerir as delícias gastronómicas numa caminhada pelo Porto viajando pelo sentimento invicto que transpira em cada poro que separa as pedras das casas que desenham estes caminhos. Embora repita este trajeto variadíssimas vezes, ao descer estas ruas estreitas dos caminhos do Porto Romântico, que, em harmonia, serpenteiam os cantos da história desta cidade, até desaguarem nas margens do majestoso Rio Douro, vou tentar gravar na memória para nunca esquecer a beleza desta cidade, aqui, nestes jardins que rodeiam o Museu e nos envolvem de modo a que só tenhamos olhos para ver o Rio Douro a embater calmamente nos muros que protegem as ribeiras.

A beleza destas ruelas está na forma como imaginámos o passado, com uns varandins onde quase não cabe uma pessoa, relembro os livros de Júlio Dinis que tão bem descrevem esta zona esquecida da maioria dos portuenses. Com o tempo e o desgaste e esquecimento da História, estas relíquias, que são as marcas do Porto de outros tempos, já não estão como eram retratadas pelo escritor, estão velhas e mal conservadas, mas ainda assim, se fechar os olhos, sinto o cheiro dos vasos cheios de flores nos parapeitos, as janelas de madeira maciça, em forma de portadas altas, abertas  para o sol entrar a ouvir-se a vida e agitação dentro das casas. Sinto-me bem, respiro este ar puro, passeio nestas vielas vazias e imagino-as com mais vida, imagino-as com a azáfama do movimento de antigamente esquecendo o contraste deste deserto onde deambulo nostalgicamente.

Percorro a calçada num passo cada vez mais rápido, a cada casa, levo-a comigo no imaginário, idealizo uma história para cada uma delas, fantasio que outrora ali se fez uma família, ainda que agora padeça apenas e só de uma memória e tenho a certeza que cada pessoa que encontro gostaria de a contar, não a que criei, mas a verdadeira, e talvez, quem sabe, sejam similares. A passada mantém-se firme e a imaginação fervilha em histórias reais no meu quimérico, até que chego à alfândega. Hesito. Subo em direção ao mercado Ferreira Borges, visito o Palácio da Bolsa, continuo? Decido. Já não vou a um sítio há muito tempo. Sigo o andamento pelo passeio do lado direito, as pedras grandes, gastas e tortas dificultam-me o andar, têm um aspeto escuro, a enquadrar-se bem no negrume desta zona humilde em contraste com as cores e luzes dos bares que destoam e confundem a História.

Entro no túnel, ouço o barulho ensurdecedor dos carros que invariavelmente apitam. Ignoro na obstinação que tenho em chegar ao meu destino...faltam poucos metros.

A saída do túnel é o fim da minha viagem. Respiro lentamente para recuperar e sentir o cheiro do local. Procuro um local e sento-me a olhar para a frente onde enfrento o painel de azulejos do Mestre Júlio Resende, a “Ribeira Negra”. O poeta Eugénio de Andrade escreveu que esta obra era um "magnificente historial da miséria e da grandeza da população ribeirinha do Porto".

Após horas a apreciar algo tão fascinante, com aquele mural a absorver todo o meu raio de visão, não consigo deixar de pensar que a beleza desta parte da cidade se deve a todas aquelas pessoas ali retratadas, ora na ribeira a lavar roupa, ora com cestos na cabeça, ora a ajudar os pescadores. Todas elas estão perpetuadas e ancoradas na História do Porto.


Foto - António Tedim
Texto - Rui Santos (www.cognitare.blogspot.com)

EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS" - FOTO 12



                                                          A "LOITA" CONTINUA"

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS" - FOTO 11


Com organização da LUMBUDUS - Associação de Fotografia e Gravura de Chaves e apoio da Universidade de Trás-os-Montes - Pólo de Chaves/Escola Superior de Enfermagem, está patente até 30 de Março na UTAD/Escola Superior de Enfermagem em Outeiro Seco - Chaves a minha exposição "A Rapa das Bestas"
EXPOSIÇÃO VIRTUAL

Ao ritmo de uma foto por dia tenho estado a colocar aqui no blog as 21 fotos que compôem a exposição, proporcionando a todos a sua visualização de uma forma virtual.

A ordem das fotos na exposição reflectem a sequência com que decorre a rapa.Irei nesta exposição virtual respeitar essa ordem. Hoje coloco a Foto 11.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS" - FOTO 8


Retirados, pelos jovens, os potros do "curro", chegou a vez do mais velhos entrarem em cena e verdadeiramente começar a "loita" .Os "aloitadores" pegam os cavalos um a um até os dominarem e imobilizarem e poderem proceder ao corte das crinas.Tarefa nem sempre fácil, já que estes animais têm uma força tremenda.Esta e as próximas fotos mostram essa "loita".

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS" - FOTO 7


Antes de começar a "loita" para prender os cavalos e proceder à rapa das crinas, os potros são separados por forma a que não sejam pisados pelos cavalos maiores durante a "loita".Essa tarefa de separação é feita pelos jovens numa espécie de iniciação à rapa.A estes potros são colocados chips de identificação para que sejam monitorizados e controlados na sua vida em liberdade.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS" - FOTO 6


Quando os garanhões se juntam no "curro" temos sempre algumas escaramuças.Durante todo o ano em liberdade nos montes é cada um no seu canto, pelo que estes encontros provocam cenas como estas.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

É CARNAVAL ... É TEMPO DOS CARETOS SAIREM À RUA


Caretos de Podence - Macedo de Cavaleiros

EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS" - FOTO 4


Com organização da LUMBUDUS - Associação de Fotografia e Gravura de Chaves e apoio da Universidade de Trás-os-Montes - Pólo de Chaves/Escola Superior de Enfermagem, está patente até 30 de Março na UTAD/Escola Superior de Enfermagem em Outeiro Seco - Chaves a minha exposição "A Rapa das Bestas"

EXPOSIÇÃO VIRTUAL

Ao ritmo de uma foto por dia vou colocar aqui no blog as 21 fotos que compôem a exposição, proporcionando a todos a sua visualização de uma forma virtual.

A ordem das fotos na exposição reflectem a sequência com que decorre a rapa.Irei nesta exposição virtual respeitar essa ordem. Hoje coloco a Foto 4.



A caminho da aldeia

domingo, 19 de fevereiro de 2012

EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS" - FOTO 3

Com organização da LUMBUDUS - Associação de Fotografia e Gravura de Chaves e apoio da Universidade de Trás-os-Montes - Pólo de Chaves/Escola Superior de Enfermagem, está patente até 30 de Março na UTAD/Escola Superior de Enfermagem em Outeiro Seco - Chaves a minha exposição "A Rapa das Bestas"
EXPOSIÇÃO VIRTUAL

Ao ritmo de uma foto por dia vou colocar aqui no blog as 21 fotos que compôem a exposição, proporcionando a todos a sua visualização de uma forma virtual.

A ordem das fotos na exposição reflectem a sequência com que decorre a rapa.Irei nesta exposição virtual respeitar essa ordem. Hoje coloco a Foto 3.



Depois de conseguirem reunir todos os cavalos os aldeões encaminham-nos para a aldeia onde vai decorrer a rapa.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS" - FOTO 2

Com organização da LUMBUDUS - Associação de Fotografia e Gravura de Chaves e apoio da Universidade de Trás-os-Montes - Pólo de Chaves/Escola Superior de Enfermagem, está patente até 30 de Março na UTAD/Escola Superior de Enfermagem em Outeiro Seco - Chaves a minha exposição "A Rapa das Bestas"
                                                     EXPOSIÇÃO VIRTUAL

Ao ritmo de uma foto por dia vou colocar aqui no blog as 21 fotos que compôem a exposição, proporcionando a todos a sua visualização de uma forma virtual.

A ordem das fotos na exposição reflectem a sequência com que decorre a rapa.Irei nesta exposição virtual respeitar essa ordem. Hoje coloco a Foto 2.



Os homens e mulheres da aldeia buscam desde a madrugada os cavalos no monte e concentram-nos mum deascampado vedado

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS" - FOTO 1



Com organização da LUMBUDUS - Associação de Fotografia e Gravura de Chaves e apoio da Universidade de Trás-os-Montes - Pólo de Chaves/Escola Superior de Enfermagem, abriu hoje a minha exposição "A Rapa das Bestas".
A exposição pode ser visitada até 30 de Marco na UTAD/Escola Superior de Enfermagem em Outeiro Seco - Chaves.

                                                     EXPOSIÇÃO VIRTUAL

Ao ritmo de uma foto por dia vou colocar aqui no blog as 21 fotos que compôem a exposição, proporcionando a todos a sua visualização  de uma forma virtual.

A ordem das fotos na exposição reflectem a sequência com que decorre a rapa.Irei nesta exposição virtual respeitar essa ordem pelo que hoje além de colocar o texto que acompanha a exposição, coloco também a Foto 1.




A RAPA DAS BESTAS


A Rapa das Bestas é uma tradição com cerca de 400 anos e que se celebra no verão em várias localidades da Galiza.

Os homens e mulheres da aldeia buscam nos montes os cavalos de pura raça galega que vivem todo o ano em liberdade nos montes ao redor da aldeia e concentram-nos num local vedado o "curro".Conseguem juntar centenas e centenas de cavalos.

Aí os "aloitadores" (os homens e mulheres que enfrentam os cavalos) usando a força prendem um a um os cavalos e é-lhes cortada a crina. Aos poldros nascidos no ano anterior são colocados chips de controle.

Com a crina cortada os cavalos correm menos risco de, na sua vida em liberdade, ficarem com as crinas presas em ramos de árvores ou em pequenos arbustos.

Em muitas rapas os cavalos também são desparasitados.

Estas acções para além de proporcionarem bem-estar aos animais, contribuem para a preservação da espécie

No final da rapa os cavalos são devolvidos à liberdade nos montes onde vivem todo o ano.

A rapa mais famosa é a Rapa de Sabucedo (festa declarada de interesse turístico internacional pela Unesco) onde os "aloitadores só usam as mãos para prenderem os cavalos.

Realiza-se sempre no primeiro fim de semana de Julho.

Sabucedo é uma pequena aldeia do município de A Estrada na província de Pontevedra.

As fotos em exposição são da Rapa das Bestas de Sabucedo de 2011.



Os cavalos de pura raça galega vivem em liberdade nos montes da Galiza.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

INAUGURAÇÃO DA MINHA EXPOSIÇÃO "A RAPA DAS BESTAS"

Com organização da LUMBUDUS - Associação de Fotografia e Gravura de Chaves e apoio da  Universidade de Trás-os-Montes - Pólo de Chaves/Escola Superior de Enfermagem, inaugura amanhã a minha exposição "A Rapa das Bestas".
A exposição pode ser visitada até 30 de Marco na UTAD/Escola Superior de Enfermagem em Outeiro Seco - Chaves.
Estão todos convidados.



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

OS ARTESÃOS DE PORTUGAL

Hoje coloco aqui em jeito de homenagem  algumas fotos dos artistas que ninguém conhece ou reconhece, - os artesãos de Portugal.








sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL DE FOTOGRAFIA - UTAD CHAVES

Com organização da LUMBUDUS - Associação de Fotografia e Gravura de Chaves e com o apoio da Universidade de Trá-os-Montes - Polo de Chaves/Escola Superior de Enfermagem abre a 17 de Fevereiro a minha exposição indvidual "A Rapa das Bestas".

Procuro com esta fotoreportagem de 21 fotos mostrar todo o desenrolar desta tão antiga tradição galega.

A exposição estará patente na Escola Superior de Enfermagem em Outeiro Seco - Chaves até 30 de Março e a sua abertura a 17 de Fevereiro coincide com o I Congresso Internacional de Teatro e Intervenção Social (publico abaixo o respectivo cartaz).

Um agradecimento ao Fernando Ribeiro, ao Dinis M.Ponteira, ao João Madureira e aos seus colegas da Lumbudus pelo honroso convite para expor na sua cidade - Chaves - e pelo trabalho de organização e montagem da exposição.
Vale a pena ter amigos assim.




segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

UMA FOTO, UMA LEITURA

Foto -  ANTÓNIO TEDIM

               

                                                                                              AMOR SEM TEMPO


O carro parou às oito horas em ponto, no parque de estacionamento do restaurante onde, durante uma vida, o casal Ventura jantara.

O parque havia sido alvo de obras para colmatar a falta de cobertura que era o drama das senhoras que investiam o seu tempo para presentearem os cavalheiros com as suas indumentárias e penteados. Passando pelo porteiro, onde incontornavelmente o Senhor Ventura dava uma moeda pela simpatia que o acompanhava ao longo destes anos todos, a porta, com os seus adornos de carpintaria efetuada com cuidado e minúcia para a abertura que havia ocorrido há mais de cinquenta anos, irrompia na vista dos seus visitantes. O restaurante mantinha o seu estilo acolhedor inicial, no hall avistava-se um balcão do lado direito, para quem espera por uma mesa ou quer apenas beber ou petiscar algumas maravilhas gastronómicas que tornam este local tão famoso. Atravessando o balcão, deparamo-nos com o maître que acompanha os clientes para as mesas, a do Senhor Ventura habitualmente reservada de sábado a sábado. A sala de jantar é generosa, mas bastante acolhedora, a decoração das paredes forradas a papel de parede aveludado, cor de vinho, a iluminação quente e amena imanada pelas luzes do teto e candeeiros de parede com abat-jour alumiavam apenas o suficiente, de modo a que fosse complementada pelos candeeiros que ladeavam cada mesa, tornando cada uma delas um espaço único e privado.

            “Andas tão calada, não querias vir a este restaurante? Não te perguntei porque vimos sempre a este e digo-te, não consigo cansar-me de vir aqui, traz-me boas recordações! Lembras-te que foi aqui que me disseste que ia ser pai?”. Esticou a mão. “Gosto de sentir as tuas mãos frias e suaves, tal e qual como quando éramos uns moçoilos. Abençoado o dia que te conheci naquele baile. Lembras-te? Claro que te lembras. Parece que foi ontem e já percorremos uma vida, sempre juntos. Primeiro uma dança, depois um namoro seguido de um casamento. Os nossos dois filhos, como são uns bons filhos! E tu já avó de seis netos, com o tempo a passar e cada vez mais bonita?”. Retirou a mão. “Humm...Acho que sei porque andas tão calada, foi porque me esqueci de alguma coisa! Sempre amuaste porque sou um cabeça no ar. Sei que agora não tenho a desculpa do trabalho! Escusas recusar falar comigo, porque mesmo amuada eu acho-te a mulher mais bonita do mundo! Vá, vamos pedir. Bife especial da casa? Sempre gostaste daquele molho que o cobre e o torna macio. Não podemos abusar, mas um dia não são dias. Vou pedir igual para mim.”

            O empregado de mesa chegou e o Senhor Ventura pediu os dois pratos, uma garrafa de água sem gás e meia garrafa de vinho maduro tinto. A sala de jantar estava cheia, ora de casais sozinhos ora de grupos de casais que conversavam, o ambiente era tão intimista que não se ouvia nenhum comentário entre as mesas, apenas se ouvia o som da música ambiente, naquele caso as notas de uma sonata de Chopin interpretada por Arthur Rubinstein preenchiam os vazios de alguns silêncios que pairavam no ar.

            “A comida continua formidável, não te parece? Bom, já que te deu para estares calada, falo eu. Esta semana estive a rever umas fotografias. Gostei particularmente de uma que nunca expusemos, é uma em que pela altura do baile. Tu estás na rua, numa praça, e alguém te tira uma fotografia. Não consegui deixar de observá-la durante horas. Lá estavas tu com os teus cabelos fartos, soltos – não dá para ver na fotografia, mas eu acrescentaria que estavam brilhantes tal e qual eu os vi pela primeira vez – de olhar compenetrado, quase diria implacável a quem se atravessasse no teu destino. Já te disse isto várias vezes, mas nunca é demais lembrar-te: o dia em que aceitaste que eu pedisse ao teu pai para te cortejar foi o dia mais importante da minha vida. Só aí me senti completo, só aí me obriguei a ser alguém, só aí se iniciou o ciclo de vida da minha felicidade. Por esse dia, eu dir-te-ei, para sempre, que o meu amor por ti não tem tempo.”

            O carro do casal Ventura arrancou passava poucos minutos das onze, saiu do parque em direção a casa.
            A governanta da casa do casal Ventura, na sua ronda antes do deitar, viu a porta do quarto do casal Ventura entreaberta, e a luz de mesa acesa. Bateu e ninguém respondeu. Decidiu entrar. O Senhor Ventura estava de pijama, deitado sobre a colcha num sono profundo e tranquilo, com uma fotografia agarrada ao seu peito.

(Esta é mais uma publicação do desafio que lancei ao Rui Santos para escrever sobre algumas das minhas fotos) 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

SERRALVES COM GENTE DENTRO


Ir ao Museu de Serralves com regularidade (aos domingos de manhã) tornou-se um hábito.
Faço-o porque me faz bem ao espírito.
Faco-o porque me faz bem à alma.
Faço-o porque gosto do que é belo.
Faço-o porque gosto das paredes do Siza.
Faço-o porque gosto!
E muita gente também gosta.
Aqui ficam algumas fotos de Serralves com gente dentro.